'Lista Suja' do MTE revela casos de trabalho análogo à escravidão em cidades do interior de SP
09/10/2025
(Foto: Reprodução) Oito trabalhadores paraguaios foram resgatados de condições análogas à escravidão em Martinópolis (SP)
MPT
Uma lista divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na segunda-feira (6) apontou que municípios como Martinópolis, Penápolis e Itapetininga estão entre os casos de trabalho análogo à escravidão no interior paulista.
Em Martinópolis (SP), 13 paraguaios trabalhavam em condições precárias em uma fazenda com plantação de mandioca.
📲 Participe do canal do g1 Presidente Prudente e Região no WhatsApp
Por telefone, o responsável pela fazenda informou à TV TEM nesta semana que, como os funcionários são paraguaios, não possuíam documentação trabalhista. Disse ainda não saber que havia necessidade de oferecer alojamento, mas afirmou ter pago os salários corretamente.
Ainda segundo ele, após a denúncia, os trabalhadores foram dispensados e outros estrangeiros não foram contratados para atuar na propriedade. Caso foi registrado entre 2023 e 2024, conforme a lista do MTE.
Veja os vídeos que estão em alta no g1
Outros casos na região
Na região de São José do Rio Preto (SP), um sítio na zona rural de Penápolis (SP), também foi alvo de uma denúncia de trabalho em condições análogas à escravidão em 2023.
À época, três trabalhadores foram resgatados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Eles trabalhavam em uma olaria na Zona Rural da cidade e estavam sem registro em carteira de trabalho. Os integrantes da operação vistoriaram os alojamentos dos trabalhadores.
Ainda segundo o MPT, os trabalhadores moravam no local com seus familiares, sem acesso à higiene. O imóvel possuía rachaduras nas paredes com risco de desmoronamento e fiação elétrica exposta.
Trabalhadores são resgtados em condições de trabalho análogas à escravidão em Penápolis
Ministério Público do Trabalho/Divulgação
Mais de 130 vítimas
Já na região de Itapetininga (SP), uma idosa de 73 anos foi resgatada em situação análoga à escravidão na casa onde trabalhava como cuidadora, em junho de 2024. Ela estava há 20 anos sem folga e só pôde dormir em sua residência apenas uma vez durante esse período, conforme o MTE.
Em julho de 2024, uma operação da Polícia Civil resgatou 13 adolescentes, entre eles uma garota, que estavam em situação de trabalho análogo à escravidão, em uma fazenda de Cerquilho (SP).
Ao todo 13 jovens foram resgatados de situação análoga a escravidão em fazenda de Cerquilho (SP)
Polícia Civil/Divulgação
No mês seguinte, aproximadamente 80 trabalhadores foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) durante uma operação de combate ao trabalho escravo em uma fazenda de Itapeva (SP).
Outro caso foi de um grupo com 37 pessoas resgatado em situação análoga à escravidão em uma fazenda de cana-de-açúcar em Boituva (SP), em setembro de 2024.
Segundo o MPT, nas frentes de trabalho, não havia banheiros e refeitórios, e os trabalhadores eram obrigados a fazer suas necessidades no canavial. Além disso, não eram fornecidos equipamentos de proteção individual, facões ou água potável.
Tráfico de pessoas
Um empresário de Itapetininga, investigado por exploração trabalhista e tráfico de pessoas, assinou um acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), em janeiro de 2024, após imigrantes venezuelanos serem encontrados em situação irregular de trabalho em um restaurante da cidade.
Seis trabalhadores foram ouvidos. Conforme relatos, eles foram convidados a trabalhar no local por um venezuelano que mora há 13 anos no Brasil.
Venezuelanos encontrados em situação análoga à escravidão receberão direitos trabalhistas
Contudo, após começarem a trabalhar, o dono do estabelecimento descontou o primeiro salário, valor acima de R$ 3,4 mil, para pagar os custos de transporte dos venezuelanos - o que já caracteriza trabalho escravo, condições degradantes e tráfico de pessoas, segundo o chefe do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ubiratan Vieira.
Todos os casos citados nesta reportagem ainda aparecem na "Lista Suja" do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na qual os nomes dos responsáveis e das empresas denunciadas permanecem publicados por dois anos.
‘Lista Suja’
A “Lista Suja” é publicada semestralmente e tem como objetivo dar transparência aos resultados das ações fiscais de combate ao trabalho escravo, que envolvem a atuação da Auditoria Fiscal do Trabalho (AFT), Polícia Federal (PF), Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União (DPU) e, eventualmente, outras forças policiais.
Conforme o MTE, a partir das fiscalizações e identificação da situação nos locais denunciados, é elaborada a infração para cada irregularidade trabalhista identificada.
Já a inclusão no Cadastro do MTE só ocorre após a conclusão de processos administrativos, nos quais são assegurados aos autuados o contraditório e a ampla defesa.
A lista atualizada incluiu 159 empregadores nacionais, sendo 101 pessoas físicas e 58 pessoas jurídicas, um aumento de 20% em relação à atualização anterior.
Veja mais notícias no g1 Presidente Prudente e Região
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM