PM que executou jovem negro em mercado vai a júri popular nesta quinta; 'Não tem jeito, ele não volta', desabafa mãe de vítima
09/10/2025
(Foto: Reprodução) Jovem negro de 26 anos é executado por policial militar de folga em mercado de SP
O policial militar Vinicius de Lima Britto, que executou um jovem negro em frente a um mercado da rede Oxxo na Zona Sul de São Paulo em novembro do ano passado vai passar pelo júri popular nesta quinta-feira (9).
O julgamento do PM, que responde por homicídio qualificado, está previsto para começar às 9h30 no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste da capital. Ao menos cinco testemunhas de defesa e acusação devem ser ouvidas: dois policiais, os pais do jovem e o funcionário do mercado que presenciou o crime.
Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, foi morto com mais de 10 tiros pelas costas quando saía do mercado, após furtar quatro pacotes de sabão. A execução foi registrada pela câmera de segurança do estabelecimento (veja acima).
Quase um ano após o crime, a mãe do jovem, Silvia Aparecida da Silva, contou ao g1 que tem "se mantido forte" graças aos filhos e à neta. A expectativa da família é que o policial seja condenado.
"Prometi para o Gabriel que vou ficar bem para ele poder descansar em paz, mas está muito difícil. Ele faz muita falta, qualquer detalhe lembro dele. É bem difícil perder um filho. O pior é que você sabe que você pode se descabelar, se desesperar, que não tem jeito. Ele não volta mais", desabafou.
O g1 tenta localizar a defesa de Vinicius.
Como foi o crime
Gabriel foi morto a tiros por Vinicius no estacionamento do mercado.
Montagem/g1/Arquivo pessoal/Reprodução
Na noite de 3 de novembro, Gabriel entrou no mercado da rede Oxxo na Avenida Cupecê, no bairro Jardim Prudência. Após furtar quatro pacotes de sabão da seção de limpeza, ele escorregou em um pedaço de papelão na porta do estabelecimento e caiu no chão do estacionamento.
Enquanto isso, Vinicius estava no caixa pagando pelas compras, quando percebeu a ação. Ele sacou a arma e atirou várias vezes pelas costas de Gabriel, que tentava fugir. O jovem morreu no local. Segundo o boletim de ocorrência, foram encontradas 11 perfurações pelo corpo dele.
Segundo a mãe de Gabriel, o jovem era usuário de drogas e lutava contra o vício havia alguns anos. Ele foi morto cinco dias antes de completar 27 anos.
No depoimento na delegacia, o policial disse que Gabriel estava armado e com a mão no bolso do moletom, razão pela qual ele atirou. Vinicius alegou que agiu em legítima defesa. Contudo, não é o que as imagens da câmera de segurança revelaram.
Desde 5 de dezembro, o policial está preso preventivamente no Presídio Romão Gomes, na Zona Norte da capital.
Gabriel e o pai Antônio
Reprodução/Arquivo pessoal
Reprovado em teste psicológico
O policial foi reprovado no exame psicológico do concurso da Polícia Militar em 2021, quando tentou ingressar na corporação pela primeira vez.
Segundo o resultado da avaliação, Vinicius apresentou "inadequação" aos critérios exigidos no perfil psicológico para o cargo de soldado nos seguintes requisitos:
Relacionamento interpessoal adequado;
Capacidade de liderança;
Controle emocional.
A avaliação psicológica é um critério eliminatório e realizada por uma banca examinadora. Após ser reprovado, Vinicius entrou com uma liminar contra a Fazenda Pública de São Paulo para contestar o resultado.
Na época, a defesa do PM, que era formada pelos advogados Carol Marques Mendes e Victor Varvello, explicou que Vinicius procurou tratamento com psicólogo particular após ser reprovado.
Cerca de três meses após a extinção do processo, Vinicius foi aprovado em um segundo concurso para soldado da Polícia Militar, em novembro de 2022.